Restos de Colecção: Palacete Henrique de Mendonça

18 de setembro de 2016

Palacete Henrique de Mendonça

Henrique José Monteiro de Mendonça (1864-1942) fez fortuna na suas plantações de cacau na “Roça Boa Entrada” em São Thomé e Principe, arquipélago a que chamava «pérola das colónias portugueses». Ao voltar para o Continente, e monárquico de convicção, é eleito, em 1911, para o cargo de Presidente da “Associação Comercial Portuguesa”, lugar que ocuparia até 1913. Entre 1913 e 1925 exerce o cargo de Vice-Governador do “Banco Nacional Ultramarino”.

Henrique José Monteiro de Mendonça (1864-1942)

Em 1925, funda a “Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses”, com Mário Duarte, autor e tradutor teatral, Júlio Dantas, Félix Bermudes, André Brun, João Bastos, Ernesto Rodrigues e os compositores Alves Coelho, Carlos Calderón e Luz Júnior, com sede na Praça dos Restauradores, nº 13 (sede da Revista "De Teatro" de que Mário Duarte era director) com o objectivo de proceder à «(...) união dos escritores teatrais e compositores musicais portugueses para a defesa dos seus direitos e melhoria dos seus interesses (...)». O escritor Júlio Dantas é eleito para o cargo de Presidente da SECTP.

Festa de homenagem ao escritor, médico, político e diplomata Júlio Dantas (1876-1962), Presidente da SECTP, realizada em 22 de Janeiro de 1927.

Henrique Monteiro de Mendonça exerceria, ainda, entre 1930 e 1942, o cargo de Presidente Nacional da “Cruz Vermelha Portuguesa”.

Entretanto em 1900 Henrique Monteiro de Mendonça, requer autorização para construção do seu palacete na antiga Quinta do Seabra, junto à Rua Marquez de Fronteira, em Lisboa. O projecto do mesmo é entregue ao Arquitecto Miguel Ventura Terra (1866-1919).

Terreno ocupadp pelo Palacete contornado a vermelho

 

 

 

Entre 1907 e 1908, sob a responsabilidade do construtor Rafael da Silva Castro decorrerão as obras de escultura de João Pereira, de cerâmica de Rafael Bordalo Pinheiro, de carpintaria a cargo de José Pedro Santos, de douramento de Manuel João da Costa, de estuques a cargo de “António Joaquim Alves da Cruz & Franco”, de cantarias de José António de Almeida e Pardal Monteiro e de serralharia de Jacob Lopes da Silva.

 

Principais empreiteiros

 

 

Localização do Palacete em foto de 1934

Segue-se, em 1909 a instalação do sistema de aquecimento por “Jacquemet, Mesnet & Cie”, de Paris. A obra é concluída sendo este edifício galardoado com o “Prémio Valmor de Arquitectura” desse ano, tendo o júri sido constituído por Alfredo de Ascensão Machado, José Alexandre Soares e Francisco Carlos Parente.

Notícia da atribuição do “Prémio Valmor” no “Annuario da Sociedade dos Architectos Portuguzes”

 

 

Trata-se de um edifício de planta rectangular, cuja fachada apresenta 3 corpos, um central avançado e dois laterais, aos quais estão adossados duas estruturas térreas, também de planta rectangular. O corpo central,de 3 pisos, caracteriza-se, ainda, pela escadaria de acesso e pelos 3 vãos, que no 2º andar definem uma galeria, com arcos em volta-perfeita, formando uma loggia suportada por pés direitos,traduzindo uma linguagem neo-renascentista, dando, tal como no 1º andar, para uma varanda corrida com balaustrada em pedra.

O “Palacete Henrique de Mendonça” viria a servir de cenário a algumas cenas de exteriores do filme português “O Costa do Castelo” realizado por Arthur Duarte em 1943. Quanto ás cenas de interiores já tenho dúvidas.

Em 26 de Fevereiro de 1982, o “Palacete Henrique de Mendonça” é considerado pelo “Instituto Português do Património Cultural” como “Imóvel de Interesse Público”.

 

No interior merecem destaque o vestíbulo coberto por cúpula envidraçada,evidenciando uma certa monumentalidade e efeito cenográfico,a partir do qual se desenvolve a monumental escadaria de acesso ao piso nobre e a feição decorativa neo-rócocó patente nos espelhos e estuques do tecto e das paredes da Sala Luís XV. Exteriormente surge rodeado por um parque murado, cujo muro de pedra encontra-se ornado por um gradeamento em ferro forjado evidenciando apontamentos “Art Noveau”.

 

 

 

 

Depois de ter sido ocupado pela “SBE - School of Business and Economics” da “Universidade Nova de Lisboa”, foi adquirido neste ano 2016, por 12 milhões de euros, pela “Fundação Aga Khan” para aí instalar a sua nova sede mundial da comunidade ismaelita, actualmente baseada em Geneve.

Nota: Acerca da vida e obra do arquitecto Miguel Ventura Terra, consultar neste blog o seguinte link: Arquitecto Miguel Ventura Terra

Fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdios Mário Novais),  Hemeroteca Digital, Do Porto e não só, SIPA

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