Restos de Colecção: Teatro Ádóque

2 de maio de 2018

Teatro Ádóque

A companhia teatral “Ádóque - Cooperativa de Trabalhadores de Teatro”, foi fundada em 1974, tendo-se instalado no “Teatro Desmontável”, - propriedade de “Companhia Rafael d’Oliveira” - situado no Largo Martim Moniz, em Lisboa. A sua abertura ocorreu a 23 de Setembro de 1974, com a revista “Pides na Grelha”.

Na génese da “Companhia Rafael d’Oliveira” esteve a “Trupe Silva Vale” e a passagem da liderança da mesma do actor Silva Vale para Rafael de Oliveira, em 1918. A designação “Companhia Rafael d’Oliveira” surgiu como definitiva apenas em 1933.

Esta sociedade artística, que subsistia através das receitas dos seus espectáculos, assentava numa dinâmica familiar, em que qualquer um dos societários acumulava diversas funções que poderiam ser tanto de cariz artístico, como técnico ou administrativo. O elenco inicial contava apenas com dez artistas, entre eles Rafael de Oliveira e sua mulher Ema de Oliveira. Em 1936 e em nome de uma maior autonomia, surgiu um “Teatro Desmontável” - uma grande estrutura independente, movida, inicialmente, por via ferroviária e, mais tarde, em dez camiões - do qual a Companhia fez uso até Setembro de 1974, quando o arrendou à “Companhia Ádóque”, em Lisboa. A Companhia conheceu o seu período de maior sucesso durante as décadas de 1940 e 1950, chegando a realizar digressões às Ilhas, a Angola e a Paris. Do seu vasto repertório destacam-se peças como “Amor de Perdição” (1921-1973), de Camilo Castelo Branco, “A Rosa do Adro” (1922-1974), de Manuel Maria Rodrigues, e “As Duas Causas” (1933-1972), de Mário Duarte e Alberto Morais.

O “Ádóque Teatro” funcionou, desde Setembro de 1974, no largo Martim Moniz, em Lisboa, como já anteriormente mencionado, estreando em 23 do mesmo mês a revista "Pides na Grelha", até 1982, quando subiu à cena a sua última revista intitulada "Tá Entregue à Bicharada".

 

Entre os fundadores desta cooperativa artística contam-se o actor, autor e encenador Francisco Nicholson, o cenógrafo Mário Alberto e o coreógrafo Fernando Lima.

«O principal objetivo do Ádóque era um trabalho inovador na revista e nos espetáculos para crianças, funcionando em regime de autogestão, o que, na área do teatro musicado, foi a primeira vez que aconteceu em Portugal.
(…) «Um punhado de pessoas que estavam dispostas a serem cocriadores de algo que fosse um marco inovador no conceito de criar e interpretar o teatro de revista, numa perspetiva sociológica sem precedentes".,
escreveu Luciano Reis no seu livro “Teatro Ádóque (1974-1982). História dum sonho teatral” 

A este grupo estiveram ligados actores como Francisco Nicholson, Ermelinda Duarte, Henrique Viana, Bombom, Delfina Cruz, António Feio, Camacho Costa, Maria Tavares, Rui Mendes, Virgílio Castelo, Natália de Sousa, Maria Vieira, Teresa Madruga, etc., e argumentistas como Francisco Nicholson, Gonçalves Preto, Henrique Viana, Ary dos Santos, Ferro Rodrigues e César de Oliveira além dos músicos Fernando Tordo, José Jorge Letria, Ermelinda Duarte e Paulo de Carvalho.

 

Francisco Nicholson (1939-2016), falecido em 12 de Abril de 2016, foi o autor do prefácio do livro, atrás mencionado, de Luciano Reis, no qual, referindo-se ao que norteou os fundadores, escreveu: «Acreditávamos em novos caminhos para o teatro de revista, liberto de todas as formas de censura - política, ideológica, económica, preconceituosa, religiosa, conservadora, eu sei lá tantas, tão ardilosas e subtis se apresentavam». O actor e encenador afirma ainda, no mesmo prefácio que todos estavam munidos de «uma fé inquebrantável» e acrescenta: «Éramos irreverentes, descarados, impertinentes, malcriados, mas sempre fraternos, generosos, despojados. Ah! Sempre com a preocupação de sermos politicamente muito incorretos...».

 

 

O “Teatro Ádóque” produziu 21 espetáculos, aos quais assistiram «mais de 1,2 milhões de espetadores», em Lisboa e «em mais de 70 localidades do país», tendo a sua produção de palco dado origem a 15 discos - 12 singles e três álbuns. Terminaria a sua actividade em 1982, tendo estreado a sua última revista "Tá Entregue à Bicharada", a 12 de Março de 1982.


Bilhete gentilmente cedido por Carlos Caria

Quanto ao seu encerramento o jornal "Diario de Lisbôa", em 16 de Setembro de 1985, e a propósito do início da demolição do "Teatro Ádóque", escrevia:
«O fechar do pano naquele espaço, em 1982, teve a sua origem em mais uma das ideias controversas do presidente da edilidade, ao planear erguer naquela zona um gigantesco centro comercial. No entanto, a tarefa prioritária de Krus Abecassis foi a de despejar o Ádóque conduzindo assim o grupo à inactividade.
(...) Quanto ao grupo do Teatro Ádóque, (Francisco Nocholson e Magda Cardoso orientam uma escola de teatro, dança e bailado nas instalações da Junta de Freguesia de Benfica), embora possua um terreno que lhe foi cedido pela CML, em Outubro de 1983, aguarda a resposta das entidades competentes, aos seus pedidos de apoio, de forma a poder dar continuidade ao sonho (…)»

Pouco antes de encerrar, em 1982, com a sua última Revista em cartaz

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Municipal de Lisboa, OPSIS

3 comentários:

Orange disse...

Há um lapso na cronologia de espectáculos do Teatro Adoque - "A CIA dos Cardeais" estreada 23 de Setembro de 1975

Carlos Queiroz disse...

Portugal no seu melhor.
As quatro primeiras fotografias a preto e branco nesta página são publicadas ilegalmente e sem permissão do seu autor, e no bom estilo do nosso país, em que desrespeitar o direito de autor é norma aceitável por qualquer pseudo importante e supostamente respeitável personalidade como a evidência o demonstra nestas fotografias, alguém achou que imprimir o nome de um programa televisivo sobre o visível nome do autor destas fotografias (neste caso eu, Carlos Queiroz que as fiz quando trabalhava para esta companhia de teatro Adoque no Martim Moniz em Lisboa nos anos 70) ignorando a honestidade e decência de que se intitulam possuir publicamente, sem sequer pensar ou perceber que em realidade, regem-se por uma total falta dignidade profissional aproveitando-se do trabalho de outros para seu proveito.
É claro que alguém irá dizer porque tanto alarido por quatro mal tiradas fotografias de um teatro irrelevante para muitos é já esquecido do público?
Porque isto é um exemplo que se repete regularmente em Portugal, com fotografias, textos, música, espetáculos e até estilos e ideias, em que desrespeitar os direitos artísticos e intelectuais dos autores é considerado irrelevante perante a lei.
Felizmente eu não vivo de trabalho fotográfico, que para mim é somente é sempre foi um 'hobby', eu sempre vivi toda a minha vida do meu trabalho em Portugal, e mais tarde em países em que os direitos de autor são protegidos por lei. Hoje vivo comfortavelmente da minha reforma profissional no Reino Unido onde o meu trabalho na indústria teatral sempre foi respeitado.
E sabendo que está minha opinião não irá ser publicada ou respeitada, eu não posso em consciência deixar continuar e a permitir impunemente a usurpação de quem se aproveita sob um nome anónimo do trabalho de terceiros para seu proveito e glória.
Ficarei atento a atitude do moderador desta página que irá confirmar ou contrariar a minha teoria de direitos de autor e copiryght does not apply.
Carlos Queiroz

José Leite disse...

Caro Sr. Carlos Queiroz

Grato pelo seu pertinente comentário.
Decerto sabe que blog usurpou a autoria das referidas fotos, tendo, como diz, e bem, colocado o título do mesmo nas fotos.
Na altura até pensei que o seu nome era realmente o autor das fotos mas que pertencia ao blog "Cabaret do Goucha".
Realmente utilizei-as, apenas com o intuito de ilustrar o pequeno artigo, que a exemplo de centenas de outros que publiquei no meu blog, apenas pretendendem fazer perdurar na memória o passado de Portugal em diversas vertentes temáticas.
O meu objectivo não é, e nem nunca foi, o meu proveito ou glória. O meu trabalho, que não é anónimo, é um serviço público, não remunerado nem tem fins lucrativos de espécie alguma.
Posto isto existem 2 soluções para o problema que coloca: Apagar pura e simplesmente o artigo, ou referenciar a sua autoria das mesmas.
Em ambas as soluções não tenho qualquer problema em fazê-lo.
Já agora, como é que esse blog terá tido acesso às suas fotos?
Aguardo a sua resposta.
Os meus cumprimentos
José Leite