Restos de Colecção: janeiro 2017

26 de janeiro de 2017

Restaurante “Pam-Pam”

O restaurante, snack-bar, pastelaria, café e salão de chá "Pam-Pam", localizado na Avenida Almirante Reis, 151, foi inaugurado em 6 de Fevereiro de 1956.

6 de Fevereiro de 1956

Capa de brochura do “Pam-Pam”

Este estabelecimento foi projectado pelos arquitectos Bento de Almeida e Vítor Palla, que viriam a ser responsáveis, também, pelo projecto do restaurante, snack-bar Galeto na Avenida da República, inaugurado em 30 de Julho de 1966.

«Á Lisboa nova daquela artéria e das que lhe estão em torno, vai bem um estabelecimento como "Pam-Pam", á maneira dos que existem já noutras capitais, rompendo com o velho cliché e servindo ao gosto moderno, e bem, naturalmente, como ontem se verificou no acto inaugural de "Pam-Pam". in jornal “Diario de Lisbôa”

1958

Actualmente é a “Cervejaria Perús”, numa imagem retirada do “Google Earth”

fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian

22 de janeiro de 2017

Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto

No final do século XIX, o Dr. José Luciano de Castro, na secção da “Direcção Geral da Instrução Publica” do Ministério dos Negócios do Reino da Legislação Portuguesa, chama a atenção do Rei D. Luís I para a necessidade de contratar o médico oftalmologista Dr.Gama Pinto (1853-1945), nos seguintes termos :
«A utilidade de se estabelecer na cidade de Lisboa um curso theorico e pratico de pathologia e clínica ophtalmologica é tão evidente, que não carece de largas considerações para a justificar. Acha-se na capital um nosso compatriota de reconhecida e notória reputação, que occupa um lugar distinto entre os mais acreditados especialista da oculistica, e exerce dignamente o magistério n’uma universidade da Allemanha, o Dr. Gama Pinto. Sendo lhe confiado desde já, para que não se veja na necessidade de voltar ao exercício do seu emprego no estrangeiro, a direcção do curso theorico e pratico da clínica ophtalmologica, far-se-há uma excelente aquisição, com que muito lucrara o paiz e a sciencia.».

Em 1885 chega a Lisboa o Dr. Gama Pinto, vindo de Heidelberg, onde leccionara oftalmologia e fora discípulo de Otto Becker, um eminente oftalmologista alemão. Em 8 de Agosto de 1889 é proposta, por decreto lei, que fosse estabelecido em Lisboa um curso «theorico e pratico de pathologia e clinica ophthalmologica».

Dr. Gama Pinto (1853-1945)

O recém criado “Instituto Ophtalmologico de Lisboa” ocupa inicialmente durante 3 anos, um edifício ao Campo Mártires da Pátria nº 151, edifício pertença do 1º Visconde da Azarujinha, edifício este que, em 1912, viria a ser ocupado pelo então “Instituto Central de Higiene”, actualInstituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge”.

Edifício do “Instituto Ophtalmologico de Lisboa”  no Campo dos Mártires da Pátria

 

«Caetano Antonio Claudio Julio Raymundo da Gama Pinto, medico-cirurgião pela Escola de Lisboa e professor d’ophtalmologia na Universidade de Heidelberg- nomeado, por decreto de 31 d’outubro, para logar de director-professor do curso theorico e pratico de pathologia e clinica ophtalmologica, creado por decreto de 8 d’Agosto ultimo » (1889). o Dr. Gama Pinto além leccionar em Hidelberg, notabilizou-se pelos trabalhos científicos sobre glaucoma e tumores oculares.

Em Portugal, e já no reinado de D. Carlos I, o primeiro curso de oftalmologia realizou-se em 1890 e 1891 e nele participaram os seguintes 23 alunos: Jayme Ernesto Salazar de Sousa, Luís Tedeshi Corrêa Neves, José Gomes Resende Júnior, Joaquim Raymundo da Fonseca, José Maria Marreiros, Manoel da Costa Rocha, João Luiz da Fonseca, Affonso de Mendes Cid, Joaquim Luiz Martins, Alexandre Luiz Pamplona Ramos, Annibal de Bettencourt, José Justino de Carvalho, Manoel Victorino de Bettencourt Jr., Francisco Justiniano Lopes, Eduino Rocha, António Amor de Mello, João Silvestre d’Almeida, Joaquim António de Sousa e Silva, Manoel Nunes d’ Oliveira, Domingues Hygino da Ponte e Sousa, Augusto Cândido Leite Lobo Alves, Frederico Lopes da Silva, António Caldeira Fernandes.

Em 1894, o “Instituto Ophtalmologico de Lisboa” transfere-se para o “Palácio dos Condes de Penamacor” na Travessa Larga nº 2 . Um Decreto com força de lei, de 6 de Abril de 1911, determina que o “Instituto Ophtalmologico de Lisboa” e o “Instituto Central de Higiene” sejam anexados, pedagogicamente, à “Faculdade de Medicina de Lisboa”. Em 1912, forma-se em oftalmologia António Anastácio Gonçalves, que se viria a notabilizar  como médico oftalmologista e pela sua paixão pela Arte, tendo legado à cidade de Lisboa a «Casa Museu Anastácio Gonçalves».

“Instituto Ophtalmologico de Lisboa” já no “Palácio dos Condes de Penamacor” na Travessa Larga nº 2

 

 

Por Decreto de 28 de Maio de 1929, o “Instituto de Oftalmologia de Lisboa” passa a denominar-se “Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto”. 

Novo edifício do “Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto” construído no mesmo local, nos anos 40 do século XX

Em 1987 o “Instituto Dr. Gama Pinto” passa para a tutela do Ministério da Saúde e em 27 de Outubro de 2009 é constituída por escritura publica a “Associação dos Amigos do Instituto Gama Pinto“. E, finalmente, em 24 de Janeiro de 2012 o “Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto” passa a integrar o “Centro Oftalmológico de Lisboa” (COL).

 

Bibliografia: “O Instituto Oftalmológico Dr. Gama Pinto como marco da moderna Oftalmologia Portuguesa” de Fernando Bívar (IOGP - Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto)

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais)

19 de janeiro de 2017

Companhia de Seguros Tagus

A “Companhia de Seguros Marítimos Tagus”, foi fundada em 20 de Setembro de 1877, com um capital social de 200 contos de réis, em consequência da assembleia geral constituinte, realizada para o efeito a 18 de Setembro do mesmo ano, a qual conferiu plenos poderes ao accionista António Gomes da Silva para a outorga da escritura.

Esta sociedade anónima adoptou para sua denominação a palavra latina “tagus”, que significa Tejo, e para seu emblema «uma chapa encarnada, representando um quadrilongo, guarnecida de um friso preto, tendo ao centro uma elipse formada por um friso dourado com fundo preto, e dentro dela a palavra TAGUS, em caracteres dourados. Contornando a elipse, na sua parte superior, tem a seguinte designação: COMPANHIA DE SEGUROS e, por baixo, em linha recta, 1877 - Lisboa».

 

     
Chapa e emblemas de radiador gentilmente cedidos por Carlos Caria

A designação inicial de “Companhia de Seguros Marítimos Tagus” estava intimamente ligada ao seu principal negócio: seguros de embarcações que navegavam no Tejo e as fazendas transportadas neste rio ou fora dele. Certamente, os comerciantes que fundaram a “Tagus” , acreditavam, na altura, que os seguros fluviais eram um ramo aliciante. Nessa altura, «o Tejo e os seus afluentes do curso final eram a mais importante via de propagação da influência de Lisboa para o interior; as comunicações por terra eram então demoradas, difíceis e perigosas e muitas vezes exigiam o recurso a trajectos marítimos e fluviais. Belém e Pedrouços estavam ligados ao centro da cidade por carreiras de barcos.»

A “Tagus” começou a funcionar com um funcionário, admitido em Outubro de 1877, a que se seguiu em Setembro de 1878 o segundo e, em Fevereiro de 1879, o terceiro, cujas remunerações mensais eram de 18$000, 15$000 e 6$000 réis, respectivamente.

A sua sede foi temporariamente instalada no escritório de um dos seus directores, na Rua do Jardim do Tabaco, em Lisboa. Em 29 de Setembro de 1880 mudar-se-ia para um andar alugado na Rua da Alfândega, 160, instalações estas que já ofereciam melhores condições, nomeadamente para a realizações de assembleias gerais, funcionamento normal dos serviços e atendimento a clientes.

                 29 de Setembro de 1880                                                     Instalações na Rua da Alfândega

  

O primeiro sinistro da “Tagus” ocorreu no rio Tejo com a fragata “S. Vicente”, a 1 de Dezembro de 1877 pelas 2 horas da tarde quando esta navegava carregada de carvão e «acontece que no mar de Cacilhas lhe veio uma grande refrega de vento que logo partio a vella grande». Segundo a peritagem, o custo do sinistro era de 6$340 réis, compreendendo o conserto da vela grande, 10 metros de fazenda, cabo de linho e fio de vela. O sinistro foi pago e reparado antes do fim do mês.

Em 1879, a “Tagus” tinha já 64 agentes espalhados pelo país de Norte a Sul , e em 1880 esse número subia a 75 estando, igualmente, representada em Cabo Verde. Em 1882, já dispunha de agências nos Açores, na Madeira e «em todos os principais portos das províncias ultramarinas da Africa Occidental».e, mais tarde em Moçambique. Em 1879 tinha já registado um movimento significativo, com a emissão de 2.196 apólices de seguros marítimos e 1.332 apólices de seguros terrestres.

É em 1882 que se registam os primeiros prejuízos da “Tagus” e desentendimentos internos, que acabariam por abalar a imagem da Companhia e conduzir à substituição completa de todo o pessoal de escritório e externo.

 

Em 1904, a “Companhia de Seguros Tagus” adquire o prédio onde anteriormente estivera instalada a “Companhia da Águas de Lisboa”, na Rua d’El-Rey, mais tarde Rua do Commercio, onde passa a ocupar os números 48 a 64.

 

1908

Em 1912 a “Companhia de Seguros Tagus”, abriria 35 novas agências e outras 30 em 1914. Criou instalações no Porto e em Braga, de seguida e já no final de 1960, em quase todos os distritos. De referir que em 1977, na véspera da sua extinção, a “Tagus” dispunha de escritórios regionais e delegações em 14 distritos ou concelhos.

1914

Apólice de “Seguro Terrestre”, em 1935

  

No ano de 1938, a “Tagus”, já com os ramos “Automóveis” e “Acidentes de Trabalho”,  processou 5.983.027$15  de prémios. Em 1944, explorava os ramos “Automóveis e Responsabilidade Civil", “Fogo”, “Marítimo”, “Transportes”, “Vida” e “Diversos” (quebra de vidros, furto e roubo e greves e tumultos). Em 1946 participa na fundação da “Companhia de Seguros Angolana”.

Em 1975 e na sequência da nacionalização dos Seguros a 15 de Março de 1975, a “Companhia de Seguros Tagus” torna-se numa Empresa Pública - E.P.. Segundo a resolução nº 199/78 do Conselho de Ministros, a “Tagus” viria a ser incorporada no grupo formado pelas companhias “Douro” (1925-1979), “Ourique” (1947-1979), “Argus” (1907-1979), e “Mutual do Norte” (1913-1979). Esta determinação, com efeitos a partir de 1 de Janeiro de 1980, estabeleceu, como produto da fusão destas companhias a criação da empresa pública “Aliança Seguradora” (1980-1995).

A 5 de Janeiro de 1995, quinze anos depois da extinção da prestigiada “Tagus”, «é autorizada a constituição da sociedade anónima de seguros denominada “Companhia de Seguros Tagus - Seguros de Assistência, S.A.” .»

Bibliografia: Dicionário de História Empresarial Portuguesa - Séculos XIX e XX - Volume II - Seguradoras. Coordenação de Miguel Figueira de Faria e José Amado Mendes - Imprensa Nacional Casa da Moeda

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Hemeroteca Digital, Delcampe.net

17 de janeiro de 2017

15 de janeiro de 2017

Comissão Reguladora do Comércio de Metais

Com o começo da II Grande Guerra Mundial, em 1939, e com o objectivo de adaptar a nossa economia às circunstâncias excepcionais resultantes do estado de guerra na Europa, e a fim de evitar consequências da anormalidade do comércio internacional neste período, foi criada, em 23 de Novembro de 1939, a "Comissão Reguladora do Comércio de Metais".

Os seus armazéns instalaram-se em equipamentos antes utilizados para a Exposição do Mundo Portuguêsde 1940, na zona de Belém e, por consequência, perto do Rio Tejo,  entretanto vagos até á sua demolição definitiva, a exemplo da "Sociedade Geral de Superintendência", e da "Comissão Suiça de Navegação".

Conjunto de armazéns onde também se instalou a “Comissão Reguladora do Comércio de Metais”

Fotos das instalações da Comissão Reguladora do Comércio de Metais, em Belém no ano de 1944

 

Esta Comissão foi criada de ordem a intervir rapidamente no sentido de orientar a importação e a  distribuição dos produtos indispensáveis, procurando manter o regular abastecimento dos mercados nacionais e o equilíbrio dos preços. Mas só no final de 1941, e início de 1942, veria as suas competências alargadas ao controlo do comércio interno e da exportação de volframite e scheelite, de cassiterite ou estanho.

Excerto dos acordos de compensação entre Portugal e a Alemanha. Troca de volfrâmio por carvão e material de guerra

 

 

Foi ainda importante a intervenção, que teve no comércio de volfrâmio, reprimindo o desregramento que vinha a verificar-se, com a extracção e exportação para países envolvidos no conflito. Lembre-se que o Dr. Oliveira Salazar, com a sua habitual prudência, foi protelando a questão do volfrâmio. Após a Grã-Bretanha muito insistir, o Dr. Oliveira Salazar, que antes acreditava inabalavelmente na vitória dos alemães, começou a mudar de opinião. Foi então que, por decreto-lei de 12 de Junho de 1944, decidiu cortar o mal pela raiz proibindo por completo a extracção do minério de volfrâmio em todas as minas que na altura laboravam no país. Ao proibir a extracção, proibia também a exportação para todo e qualquer dos países envolvidos no conflito.

Correspondência referente a negociações entre Portugal e a Alemanha de 1 de Fevereiro de 1944

 

12 de Março de 1941

 

12 de Fevereiro de 1942

Por consequência todos os stocks de volfrâmio existentes foram entregues à "Comissão Reguladora do Comércio de Metais", ficando deles depositária até ao termo das hostilidades da Europa.

 

Em 1947 , e com o final da II Guerra Mundial desapareceram as circunstâncias que provocaram o referido desiquilíbrio económico, e o comércio tendia a regressar à normalidade, pelo que tornava-se desnecessária a intervenção deste organismo regulador e coordenador. Por estas razões em 27 de Agosto de 1947 a "Comissão Reguladora do Comércio de Metais" foi extinta por decreto-lei.

fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian