Restos de Colecção: Paquete “Serpa Pinto”

7 de outubro de 2015

Paquete “Serpa Pinto”

O paquete "Serpa Pinto", entrou pela primeira vez em Lisboa em 19 de Abril de 1940, depois de ter sido entregue à Companhia Colonial de Navegação” (1922-1974) em Split, na Jugoslávia, em 18 de Março do mesmo ano. Este paquete, de 8.267 toneladas, anteriormente denominado "Princeza Olga" tinha sido adquirido, por 18.978 contos.

O “Princeza Olga” tinha sido construído em 1915, nos estaleiros "Workman Clark & Co, Ltd " de Belfast, Irlanda, para a "Royal Mail Steam Packet Co.” com o nome de "Ebro", e cuja viagem inaugural teve lugar em 28 de Abril de 1915, e destinado à carreira das Antilhas. Depois de ter servido como cruzador auxiliar na I Guerra Mundial, viria a ser vendido à "Pacific Steam Navigation Company" em carreiras regulares entre New York-Panama Canal-Pallao-Valparaíso até 1930. Depois de cinco anos de imobilização devido à depressão de 1935, o "Ebro" foi vendido à empresa "Jugolavenski Lloyd", por 21.000 libras esterlinas, passando a chamar-se "Princeza Olga" e a fazer cruzeiros no Mediterrâneo.

Anúncio "Royal Mail Steam Packet Co.” com referências a escalas em Portugal e postal do paquete “Ebro” (1915-1930)

 

“Princeza Olga” (1935-1940)

O paquete “Serpa Pinto”, depois de uma entrada apoteótica no rio Tejo, em 19 de Abril de 1940, a qual chegou a ser relatada, em directo pela “Emissora Nacional”, para todo o país, como se de um jogo de futebol se tratasse, viria a sofrer em Lisboa algumas reparações e modificações, sendo as instalações para os passageiros ampliadas. Em consequência das alterações introduzidas o “Serpa Pinto”, além de ter sido decorado com novo mobiliário, foi construída uma capela e mais camarotes, passando a lotação para 704 passageiros (113 em 1ª classe, 86 em 2ª 130 em 3ª e 375 nas cobertas).

Paquete “Serpa Pinto”, na primeira entrada no rio Tejo, em 19 de Abril de 1940

         

 

 

 

A sua viagem inaugural teve lugar a 11  de Maio de 1940, e transportando 258 passageiros escalou os portos de Funchal, São Tomé, Luanda, Lobito, Moçâmedes, Cape Town, Lourenço Marques, Beira e Moçambique. No dia da partida foi descerrado um quadro do explorador Serpa Pinto no salão da 1ª classe, em cerimónia presidida por sua filha Dª Carlota Serpa Pinto. O “Serpa Pinto” regressaria a Lisboa, da sua viagem inaugural, em 14 de Julho de 1940, transportando grupos de indígenas destinados a participar na Exposição do Mundo Português”.

Publicidades à primeira e a uma das últimas viagens do paquete “Serpa Pinto”

                      27 de Abril de 1940                                                            6 de Fevereiro de 1954

 

 

No canal de Kiel, em 1952, durante a viagem de regresso da comitiva olímpica portuguesa após a sua participação nos Jogos Olímpicos de Helsínquia

Durante a II Guerra Mundial, o paquete “Serpa Pinto” - apelidado pelo jornal americano “New York Times” de “Refugee Ship”  (“navio dos refugiados”) - foi um dos poucos que continuou para o transporte de passageiros e refugiados judeus para os Estados Unidos da América, devido ao papel neutral de Portugal. Fez cinco viagens para New York, entre Janeiro de 1941 e Junho de 1942, e catorze viagens para Philadelphia, entre Novembro de 1942 e Junho de 1945. Cerca de 7800 passageiros e tripulantes foram transportados em condições muitas vezes complicadas, incómodas e acima de tudo perigosas, mas …

Refugiados judeus de partida para os EUA no cais da Rocha do Conde d’Óbidos, em Lisboa, em 1 de Setembro de 1941

            

O incidente mais grave ocorreu na noite de 26 de Maio de 1944, quando se dirigia a Philadelphia. Um submarino alemão U-2 ordenou a evacuação total dos passageiros para os salva-vidas e solicitou a Berlim o torpedeamento do “Serpa Pinto”. Durante toda a noite a tripulação e os passageiros aguardaram nos botes pela decisão do Estado-Maior da Marinha Alemã. Pela madrugada chegou a resposta do Almirante Dönitz a não autorizar o afundamento, felizmente. Os salva-vidas voltaram ao navio, mas, na operação de abordagem do mesmo, faleceram 3 passageiros.

Entretanto, o Cardeal Patriarca de Lisboa, Dom Manuel Gonçalves Cerejeira (1888-1977), iniciava a 15 de Julho de 1944, uma viagem, a Moçambique, a fim de inaugurar a Catedral da Arquidiocese de Lourenço Marques, em representação do Papa Pio XII. O Cardeal e sua comitiva embarcaram no paquete “Serpa Pinto”, que foi “desviado” da habitual carreira da América, para esta viagem. Largou para Moçambique cumprindo o itinerário com as escalas habituais da carreira postal da África Oriental: Madeira, Cabo-Verde, São Tomé, Angola e Moçambique. Uma longa viagem de quase 3 meses que sou terminaria em Lisboa a 1 de Outubro do mesmo ano. Acerca desta viagem consultar neste blog o seguinte link: “Viagem do Cardeal Cerejeira a Moçambique”.

Salão de recepções e aposentos do Cardeal Patriarca de Lisboa D. Manuel Gonçalves Cerejeira

 

Durante a Segunda Guerra o “Serpa Pinto” fez inúmeras viagens transatlânticas aos EUA e ao Brasil, para além de duas viagens a Moçambique, passando depois a assegurar a carreira do Brasil onde ficou conhecido como o "Navio da Amizade". Em 1953, este paquete inaugurou a carreira da Venezuela, sendo substituído depois pelo novo “Santa Maria”, também pertença da Companhia Colonial de Navegação” (1922-1974).

A construção de modernos navios, como os paquetes “Vera Cruz” e o “Santa Maria”, fez com que o “Serpa Pinto” ficasse tecnologicamente ultrapassado, mas jamais esquecido pelos portugueses e por outros interessados em transatlânticos. Em 1955, o “Serpa Pinto” seria vendido para sucata. Partiria para a sua derradeira viagem de Lisboa, em 6 de Setembro de 1955, tendo o seu desmantelamento sido executado no porto de Antuérpia, por uma firma de sucateiros belgas.

3 de Julho de 1954

Características do paquete “Serpa Pinto” :

Tipo: Navio de passageiros de dois hélices
Estaleiro:  Workman Clark & Co. Ltd., Belfast, Irlanda, 1915
Arqueação: 8 267 toneladas
Comprimento: 142,47 m
Boca: 17 m
Pontal: 6,85 m
Propulsão: 2 máquinas a vapor “Workman Clark Ltd.” de 8 cilindros, num total de 6.000 Ihp com 2 veios
Velocidade: Máxima: 15,5 nós;  de cruzeiro: 14.0 nós
Tripulação: 160 Tripulantes
Passageiros:  704 passageiros: 113 em 1ª classe; 86 em 2ª;  130 em 3ª;   375 nas cobertas
Armador: Companhia Colonial de Navegação” (1922-1974)

Bibliografia: foi também consultado “Blogue dos navios e do Mar” e o livro: «Paquetes Portugueses», de Luís Miguel Correia, Edições Inapa, Lisboa, 1992.

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Blog dos Navios e do Mar, Alernavios

7 comentários:

João Menéres disse...

Ia jurar que me lembro dele em Leixões na década de 49. Estarei enganado ?

João Celorico disse...

Caro José Leite,

A foto do "Serpa Pinto" atravessando o canal de Kiel, refere-se à viagem de regresso dos Jogos Olímpicos de Helsínquia, transportando a comitiva olímpica de Portugal. Durante os Jogos, serviu de alojamento a toda a comitiva! Como eram diferentes os tempos!

Cumprimentos,
João Celorico

José Leite disse...

Caro João Menéres

Isso já não sei responder ...

Os meus cumprimentos

José Leite

José Leite disse...

Caro João Celorico

Grato pela informação adicional

Os meus cumprimentos

José Leite

Ricardo Santos disse...

Estaleiro, Belfast Escócia?
Cumps

José Leite disse...

Caro Ricardo Santos

No princípio do artigo estava correcto, mas no final foi "desastre".

Já está corrigido.

Agradecendo a sua chamada de atenção, os meus cumprimentos.

José Leite

Unknown disse...

Alguém sabe como ou onde é possível ver um bilhete de transatlântico na década de 40? Deste transatlântico em particular ou de qualquer um outro.

Isso é que era bestial...