Restos de Colecção: Paquete “Lima”

3 de junho de 2013

Paquete “Lima”

O vapor "Lima" (1907-1969), foi o primeiro paquete da parceria "Transportes Marítimos do Estado" a ser vendido, tendo sido adquirido  pela "Empresa Insulana de Navegação" (1871-1974) em 31 de Dezembro de 1922 para substituir o primeiro paquete "Funchal" (1884-1927) na carreira das Ilhas dos Açores e Madeira.

O nome primitivo deste paquete foi “Westerwald” e o seu primeiro proprietário foi a companhia alemã “Hamburg Amerika Linie” (Hapag), que o havia mandado construir, em 1907 no Reino Unido, nos estaleiros “Furness Whithy & Cº Ltd” em West Hartlepool. O “Westerwald” foi um dos navios germânicos que se refugiou no estuário do Tejo, quando rebentou o primeiro conflito generalizado, e foi um dos que as autoridades portuguesas apresaram em 1916. Este acto considerado belicista, levaria o Império Alemão a declarar guerra a Portugal.                                

Características:

Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 3.900 t
Propulsão: 2 máquinas a vapor R. Westgarth , 3.200 Ihp
Veios de hélices: 2
Comprimento: 107,31 m 
Boca (largura): 13,74 m
Velocidade máxima: 13 nós
Passageiros: 314, assim distribuídos:
1ª Classe - 99
2ª Classe - 45 
3ª Classe - 111
Tripulantes: 59

                                   Bar da 1ª classe                                                                     Salão de música

  

                           Camarote da 1ª classe                                                                    Sala de jantar

                    

O paquete “Lima”, efectuava  a viagem aos Açores partindo de Lisboa a 8 de cada mês, aportando ao Faial no dia 16. Durante os meses de Julho a Setembro fazia escala em Porto Santo, onde chegava a 10, na viagem de ida, e a 22 ou 23 na viagem de regresso. A viagem de regresso do Faial efectuava-se no mesmo dia, ou no dia seguinte, com chegada a Lisboa a 24 ou 25 desse mesmo mês.

                                                               Paquete “Lima” no porto do Funchal

 

                                                        

                                  

                 Paquete “Lima” na proa do “Arnel” , também da EIN, no porto de Ponta Delgada nos Açores em 1957

                                   Lima.8

A parceria “Mala Real Portuguesa” constituída em 24 de Junho de 1888, tinha passado a fazer exclusivamente viagens para o Brasil em 1898, com os paquetes gémeos “Rei de Portugal” (1889), “Moçambique” (1889) e “Malange” (1890). A linha do Brasil não deu os resultados esperados,  e a “Mala Real Portuguesa” viria a ser liquidada em 1902, e vendidos os seus navios. A partir dessa altura, Portugal passou a não ter ligações marítimas regulares com o Brasil, que só viriam a ser  retomadas em Agosto de 1920.       

                                          

          Paquete “Rei de Portugal” (1889-1902) e comum aos outros 3 navios gémeos num desenho de Luís Filipe Silva

                                        
                                        desenho in: Navios e Navegadores

                                          1865                                                                                 1867   

         

                                                                                           1900

                                          

               “The Pacific Steam Navigation Company” em 1880                                                     1907

                       

Foi o paquete "Lima" dos “Transportes Marítimos do Estado” que inaugurou em Agosto de 1920, o restabelecimentos das carreiras a vapor de companhias portuguesas para o Brasil, até então asseguradas apenas por companhias estrangeiras. Ao "Lima" ficou destinada a carreira para Manaus no Estado do Amazonas, assim como o “S.Jorge” (1898). Para o Sul do Brasil ficaram destinados os paquetes “Trás-os-Montes” (1906) e “Porto” (1894).

                                                   Anúncio na “Folha de São Paulo” em 31 de Maio de 1922

                                          

De seguida publico excertos de notícias acerca das carreiras marítimas para o Brasil, publicadas na “Revista de Turismo”.

                                  Agosto de 1920                                                                         Março de 1921

 

                                 
                                 capa gentilmente cedida por Marçal Trindade

 

                                                             “Lima” em manobras no porto de Manaus

 

                                               “Lima” está atracado no cais de Manaus carregando piaçava

                                         
                                                     3 fotos anteriores gentilmente cedidas por Marçal Trindade

Nota: «Piaçava» é uma fibra retirada de uma palmeira amazónica e que é utilizada no fabrico de vassouras e afins.

O “Lima” foi o primeiro paquete dos “Transportes Marítimos do Estado” a ser vendido. O navio seria comprado pela “Empresa Insulana de Navegação”, por 1.600 contos, a 31 de Dezembro de 1922 e, em 1924, foi modernizado no estaleiro “Cantieri Navali Triestino” de Monfalcone, em Trieste, tendo a renovação custado 900 contos. Este estaleiro construiria o paquete “Carvalho Araújo”, e entregue à “Empresa Insulana de Navegação” no dia 17 de Dezembro de 1929, e destinado ás carreiras da Madeira e Açores.

                                                          “Cantiere Navale Triestino” anos 20 do século XX

                                 

O “Carvalho Araújo” foi o último paquete a ser entregue por este Estaleiro italiano com esta designação. No final de 1929 o “Cantieri Navale Triestino” fundiu-se com outro estaleiro naval italiano o “Stabilimento Tecnico Triestino” dando origem ao “Cantieri Riuniti dell' Adriatico” (CRDA). Este estaleiro viria a especializar-se na construção de submarinos.

O paquete "Lima" fez a sua última viagem num cruzeiro de despedida às Berlengas com funcionários e convidados da "Empresa Insulana da Navegação", em 9 de Julho de 1968. Foi desmantelado no cais de Xabregas em 1969 depois de ter sido vendido ao sucateiro "Raposo & Vasques Vale , Lda.".

Em 1972 a “Empresa Insulana de Navegação” viria a dispor de outro navio com o nome “Lima”, mas desta vez não seria de passageiros mas sim e apenas de carga. Estaria ao serviço até 1988, já na posse do seu novo armador, a “CTM - Companhia de Transportes Marítimos”.

                                                                         Cargueiro “Lima” (1972-1988)

                                 

Bibliografia: Para a elaboração deste artigo, também, foi consultado o livro: «Paquetes Portugueses», de Luís Miguel Correia, Edições Inapa, Lisboa 1992. de onde foram retiradas as fotos do interior do “Lima”.

Nota: Muito agradeço a gentileza do sr. Marçal Trindade na disponibilização das fotos do “Lima” no porto de Manaus.

fotos in: Ships Insulana, Hemeroteca Digital, EstaçãoCronographica, Blogue dos Navios e do Mar, Navios e Navegadores, Alernavios, Cais Regional

3 comentários:

LUIS MIGUEL CORREIA disse...

O paquete LIMA foi um navio verdadeiramente épico. A sua última viagem não foi o cruzeiro às Berlengas, pois ainda voltou aos Açores em Outubro e Novembro de 1968 uma derradeira vez.
A carreira do Brasil dos TME foi um fiasco, como quase tudo o que se relacionou com o Estado metido a armador. Antes o navio esteve fretado à Companhia Nacional de Navegação a fazer a linha de África.
A data de entrega do CARVALHO ARAÚJO é 1930. Foi lançado ao Adriático em Dezembro de 1929.

José Leite disse...

Caro Luis Miguel Correia

Muito grato pelas informações adicionais

Os meus cumprimentos

José leite

Unknown disse...

Pires Barbosa

O paquete Lima só tinha uma máquina propulsora e um hélice