Restos de Colecção: Colégio Jesus Maria José

21 de janeiro de 2013

Colégio Jesus Maria José

O "Colégio Jesus Maria José" , conhecido pelo "Colégio do Quelhas", tem a sua origem no ano de 1866.

No desejo de fomentar a vida cristã em Portugal, o Padre Francisco Xavier Fulconis, superior da Missão Portuguesa da Companhia de Jesus, tinha escrito para Roma à Irmã Paula Frassinetti, solicitando-lhe algumas das suas religiosas para a abertura de um Colégio em Lisboa.

Em carta à Irmã Giuseppina Bozano, datada de 28/1/1865, Paula Frassinetti escrevia: «Está a tratar-se com o Padre Fulconis de uma fundação em Portugal, reze e faça rezar para que, se for obra e Deus, se realize; e, se o não for, que Ele a impeça». E em carta a 6 de Abril do mesmo ano: «Coloquei esta fundação nas mãos de Deus, e pelo decorrer dos acontecimentos se conhecerá a sua santíssima vontade».

A 4 de Julho de 1866, um pequeno grupo de três Irmãs tomava o comboio em Génova, com destino a Portugal. Eram as fundadoras da "Província Portuguesa das Irmãs de Santa Doroteia": Madre Giuseppina Bozano, nomeada Superiora, Madre Luigia Guelfi, também genovesa, e Sor Maria Puliti , romana.

«Ao anoitecer do dia 5 de Julho de 1866, numa quinta-feira simples, sem título que a recomendasse, as três fundadoras, discretamente, entraram na sua casa. No mistério da noite, nascia pobremente o "Colégio Jesus Maria José" (Colégio do Quelhas) , e com ele a "Província Portuguesa das Irmãs de Santa Doroteia".»

                                                        "Colégio Jesus Maria José" ("Colégio do Quelhas")

  

         

  

O edifício do Colégio, sito na Rua do Quelhas, nº 6 A, era vulgarmente chamado “Convento das Inglesinhas”, por ter sido convento das Agostinhas de Santa Brígida (Irlandesas). Ficara desabitado desde 1834, ano em que as monjas o abandonaram, já que, embora súbditas de Inglaterra, temiam qualquer violência, em virtude do Decreto que extinguia em Portugal as ordens religiosas.

O enorme casarão, já meio arruinado, bem como a Igreja pública anexa, dedicada a Santa Brígida, foram comprados em 1866 por D. Maria da Assunção de Saldanha e Castro, filha dos Condes de Penamacor. A igreja e parte do Convento doou-as aos Jesuítas, na pessoa do Padre Francisco Xavier Fulconis; a parte restante foi, pela mesma, doada às Irmãs de Santa Doroteia, para fundação de um colégio.

 

 

 

Em 1910, com a implantação da República, o velho vendaval da perseguição religiosa soprou rijo sobre o florescente "Colégio do Quelhas".

Na noite de 7 para 8 de Outubro, «durante longas quatro horas, foi medonho o crepitar de balas que nos entraram pelas janelas». Ao som de tiros, a Superiora do Colégio - Eugénia Monfalim - distribuiu a Sagrada Comunhão a todas as Irmãs, tendo antes dirigido às mesmas, «palavras de conforto para o martírio». A tais horas da noite, estas cenas eram bem dignas das catacumbas ...

Na madrugada de 8 de Outubro, invadido o "Colégio do Quelhas", as irmãs viram-se obrigadas a abandonar a casa, sendo conduzidas, em grupos, ao Arsenal da Marinha.

 

Refeitório Salão

Ao fim de 44 anos de existência, terminava assim o Colégio Jesus Maria José, mais vulgarmente conhecido por Colégio do Quelhas ... «Como o grão de trigo que morre para dar muito fruto, este vendaval levou a semente para terras de exílio: Espanha, Brasil, Estados Unidos, Suíça, Inglaterra, Bélgica, Malta ...»

Em 30 de Novembro de 1913. viria a ser solenemente inaugurado, no antigo "Convento de Quelhas", e no lugar do "Colégio do Quelhas", o "Instituto Superior do Comercio". Em 1934 o mesmo edifício viria a ser ocupado pela "Emissora Nacional".

A restauração da "Província Portuguesa das Irmãs de Santa Doroteia" iniciou-se em 1918, mas somente em 1930, das cinzas, renascia na capital o "Colégio do Quelhas", agora com a designação de Colégio D. Estefânea", pela sua localização na Rua D. Estefânia, 126 em Lisboa.

Finalmente, em 20 de Abril de 1935, o "Colégio D. Estefânia" é transferido para um espaçoso edifício - Palácio do Visconde de Abrançalha - sito na Rua Artilharia Um, nas proximidades do Parque Eduardo VII, razão pela qual se tornou conhecido por "Colégio do Parque". Mais tarde, em 1943, retomaria a designação de "Colégio Jesus Maria José" , num regresso às suas raízes: o "Colégio do Quelhas".

            "Externato do Parque" e polícia sinaleiro comandando os primeiros semáforos (ainda manuais) em Lisboa

                               

Inicialmente, o Colégio era frequentado por 150 alunas internas e 30 externas. Após a abertura do Colégio de Santa Doroteia, em 1936, o edifício da R. Artilharia Um passou a funcionar apenas como externato e semi-internato, daí a designação de "Externato do Parque", elevando-se a frequência para 300 alunas. Ministravam-se as aulas da Instrução Primária e o Curso Geral dos Liceus (segundo a terminologia da época), havendo ainda aulas complementares de Línguas, Música, e Desenho Artístico para as alunas que desejassem.

Ainda hoje existe este estabelecimento de ensino, no mesmo local e com a mesma designação, pertença da "Congregação das Irmãs de Santa Doroteia".

                                 

fotos in: Delcampe.Net, Arquivo Municipal de Lisboa

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