Restos de Colecção: Festas da Cidade de Lisboa 1935

11 de junho de 2012

Festas da Cidade de Lisboa 1935

A inauguração pelo Presidente da República general Óscar Carmona das "Festas da Cidade" de Lisboa ocorreu a 1 de Junho de 1935, e teve como primeiro acto a abertura das "I Exposição Filatélica" e da "Exposição Antoniana".

                                                                         Cartaz de Stuart Carvalhais

                                                          

O general Óscar Carmona e restante comitiva na inauguração da "Festas da Cidade" nos Paços do Concelho

                                 

A "I Exposição Filatélica" integrada nas "Festas da Cidade" teve o patrocínio da Câmara Municipal de Lisboa tendo ocupado dois salões da mesma. Num dos salões ficou instalada a secção oficial, composta pela "Administração Geral dos Correios", posto de Correio e "Casa da Moeda". Noutro salão as colecções dos expositores. A comissão organizadora foi presidida pelo Conde de Folgosa.

                    

Lembro que estas "Festas da Cidade" tiveram lugar após "As Grandes Festas Militares" que ocorreram em Lisboa entre 18 e 28 de Maio de 1935. Integrada na "Semana Militar" organizada pela revista "Defesa Nacional" com o patrocínio do Governo e tendo por objectivo uma larga divulgação do espírito de defesa e de interesse pelas coisas militares. Teve a participação do Exército, da Guarda Nacional Republicana, da Guarda Fiscal e da Polícia.

                                                                        Cartaz de Jorge Matos Chaves

                                                    

                                              Capa do programa das Festas da Cidade, por Stuart Carvalhais

                                                                

No mesmo dia à tarde foi inaugurada a "Feira do Livro", no Rossio. No dia seguinte dia 2 de Junho teve lugar o "II Circuito Automobilista" do Parque Eduardo VII, para automóveis e motos «em que mais uma vez serão postas em evidência a audácia e a perícia dos nossos melhores amadores do volante, obrigados, pelas dificuldades que oferece o percurso, a pôrem em jogo todos os seus recursos e a exigirem das suas máquinas um máximo esforço». Na mesma tarde realizou-se o "Concurso de Elegância e Conforto" automobilístico.

                                                                   I "Feira do Livro" no Rossio em 1930

                                          

O "I Circuito Automobilista" do Parque Eduardo VII tinha sido disputada  nas "Festas da Cidade" de 1934, em que mais de 30 mil pessoas e com a presença do Presidente da República, general Óscar Carmona, se disputaram pela primeira vez corridas de automóveis e motos.

                              Prova de motos no Parque Eduardo VII em 1934                            Cartaz de Stuart Carvalhais

          

E no mesmo dia 2 de Junho de 1935 ainda seria inaugurada a "I Exposição Internacional de Aeronáutica" no "Pavilhão das Exposições" no Parque Eduardo VII.

                                                   

Durante as "Festas da Cidade" o "Consórcio Português de Conservas de Sardinha" distribuiu gratuitamente os produtos do seu fabrico no seu «stand» na Feira da Praça do Comércio.

                                       Anúncio no "Diário de Lisboa" e «stand» na Feira da Praça do Comércio

        

Concluída a demolição do Convento das Francesinhas, após duas décadas de trabalhos, frente a uma das alas do Palácio das Cortes, a Câmara Municipal decidiu construir nesse terreno, por ocasião das "Festas da Cidade", um bairro antigo em miniatura de seu nome "Lisboa Antiga" evocando Lisboa no século XVIII, sob a ideia e direcção do arquitecto Gustavo Matos Sequeira.

                          Antigo Convento das Francesinhas                                             Após a sua demolição

        

No primeiro domingo de Fevereiro de 1935 foram à feira do Campo Grande contratar trabalhadores para a edificação. No dia 14 de Fevereiro começaram as escavações e 21 dias depois, a 7  de Março foi colocado o primeiro prumo. Matos Sequeira fez a planta e os alinhamentos com a ajuda de Rocha Vieira que traçou os desenhos. Tiveram a colaboração ainda do modelador João Rocha e do construtor civil Álvaro Rodrigues de Oliveira. Trabalharam dia e noite, Sábados, Domingos e feriados.

                                                                             Gustavo Matos Sequeira

                                                                         

Em 4 de Junho de 1935, após 110 dias de trabalhos surgia  o "Bairro Novo da Lisboa Velha" apelidado de "Lisboa Antiga". Era composta de ruas, travessas, praças, arcos, Igrejas, conventos e casa nobres. Toda esta armação e madeiramentos forrados de estafe, foram demolidos e o terreno devolvido à Câmara Municipal de Lisboa no final.

                                                                          Panorama da "Lisboa Antiga"

                                 

        

Este recinto contava como atractivos desde o "Pátio das Comédias" à típica "Estalagem do Vicente", passando pelas cerca de sessenta velhas Tendas de Comércio. Várias festas ali ocorreram como um grande sarau no "Pátio da Saúde", becerradas, corridas ao pato, cavalhadas, um oiteiro no convento e festejos populares nas vésperas de S. João e S. Pedro e ainda um festival elegante em que todos os visitantes se trajaram á moda antiga.

        

        

        

Pouco mais de uma década depois, em 1949, neste mesmo local era inaugurado um jardim de traçado geométrico, com a estátua “A Família”, de Leopoldo de Almeida, dominando todo o espaço, ainda sem árvores. O jardim tomou o nome do antigo parque de diversões "Jardim da Lisboa Antiga"

                                                                "Jardim da Lisboa Antiga" actualmente

                                      

As "Festas da Cidade" de Lisboa encerraram a 15 de Junho de 1935. Além das iniciativas de 2 de Junho, atrás citadas, tiveram lugar as seguintes: Torneio Medieval nos claustros do Mosteiro do Jerónimos, Cortejo Medieval realizado por Leitão de Barros ( que viria a ser o secretário-geral da "Exposição do Mundo Português" de 1940 ), Concurso de Montras, Feira da Praça do Comércio e Concurso das Marchas de Lisboa.

                                       Torneio Medieval                                                              Cortejo Medieval

        

                          Feira da Praça do Comércio                                    "Tenda da Jerónimo Martins & Filho, Lda."

        

                         Desfile das Marchas de Lisboa (Marcha de Benfica)                                     Beatriz Costa

         

A vencedora do concurso das "Marchas de Lisboa" 1935, foi a Marcha de Benfica criada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Araújo e música de Raúl Ferrão. Esta foi a I Grande Marcha de Lisboa, e Beatriz Costa a cantora convidada pelo bairro de Benfica, vestida de saloia desfilou na Avenida da Liberdade montada num burro. Mais tarde iria ter uma outra grande versão por Amália Rodrigues.

Só nestas "Festas da Cidade" de Lisboa de 1935 é que as "Marchas de Lisboa" desfilaram desde a Praça do Comércio até à Praça Marquês de Pombal, acontecimento quase nacional que só foi interrompido até 1940 a quando da II Grande Guerra Mundial.

Lembro que as primeiras "Marchas de Lisboa" realizaram-se em 5 de Junho 1932 no Parque Mayer no Cine-Teatro Capitólio. A ideia foi de um jornalista do "Diário de Lisboa" Norberto de Araújo e integrava-se na «política do espírito» de António Ferro e na reinvenção da nossa história ao gosto do Estado Novo. Foi Leitão de Barros, cineasta, escritor, homem do teatro e do grande espectáculo que encenou as primeiras Marchas de 1932 confinadas apenas ao espaço do Parque Mayer, com um júri quase composto só por actores e actrizes das quais se destacam Beatriz Costa e Lucinda Simões.

Fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Hemeroteca Digital, Biblioteca Nacional Digital, Os Heróis

9 comentários:

Graça Sampaio disse...

Como sempre, uma maravilha de retrospetiva!

José Leite disse...

D. Graça Sampaio

Como sempre, mais um simpático comentário da sua parte.

Cumprimentos

Ana Marques Pereira disse...

José Leite,
Foi um coincidência falarmos do mesmo tema. Não tinha visto o seu post e só mostra que se pode falar do mesmo de maneiras diferentes.
Cumprimentos

José Leite disse...

Cara Ana Pereira,

Engraçado, que costumo diáriamente percorrer os blogues que sigo habitualmente e ontem por estar ocupado com um novo artigo não visitei nenhum.

Já o visitei e tem toda a razão no que escreveu.

Desde já aproveito para a felicitar pelo seu interessantíssimo blogue.

Cumprimentos

Ana Marques Pereira disse...

José Leite,
Obrigado. Devolvo-lhe as felicitações pelo seu blog com artigos exaustivos que lhe dão seguramente um trabalho imenso.
Cumprimentos

Anónimo disse...

Excelente! Obrigado! Gostava de saber mais sobre essa Lisboa Antiga, onde foi buscar as informações?

E já agora uma pequena nota, as marchas foram inventadas em 1932 e não em 1934 como pode ler aqui:

http://www.dn.pt/inicio/interior.aspx?content_id=602500

De 1934 datam as Festas de Lisboa onde depois foram incorporadas e aí sim já dentro do espírito de folclorização do Estado Novo.
Cumprimentos

José Leite disse...

Caro Anónimo

Grato pelas suas palavras em relação a este blogue e à correcção.

Quanto à informação que me deu já corrigi o ano, e acrescentei o dia, após ter recorrido ao link que me disponibilizou.

Cumprimentos

José Alexandre disse...

Ainda que tardio da minha parte, um tesouro de recordações que só uma coleção impecável como a sua pode reconstituir. Obrigada, Alexandre Costa

José Leite disse...

Caro Alexandre Costa

Eu é que agradeço a amabilidade do seu comentário.

Cumprimentos
José Leite